Prestes a completar 160 anos de existência, o Jantar de Natal da Banda Musical Lanhelense constituiu um momento de confraternização e evocação do longo e rico historial da filarmónica.

António Vasconcelos, vindo expressamente de França onde reside há 30 anos, a fim de conviver com os seus colegas músicos, directores e apoiantes da banda, teve oportunidade de entregar ao presidente da direcção um resumo do seu trabalho de investigação sobre a história de uma das mais antigas filarmónicas.

Forneceu aos presentes alguns apontamentos desse estudo iniciado por conta própria há 25 anos, mas que passou a fazê-lo para a Banda há 16, quando solicitado para tal, era então presidente da direcção Filipe Cunha.

Descreveu em tom emocionado algumas passagens envolvendo músicos e maestros (como foi o caso de um acontecimento solidário que decorreu durante a 1ª Guerra Mundial nas Ardenas/França, entre um maestro – João José Silva – e um músico -António Luís Lages combatentes desse conflito), citou gerações de famílias com contributo e assiduidade permanente na Banda, assinalando que somente na década de 70, antes do 25 de Abril, é que as mulheres tiveram aceitação na banda.

“TEMPO, PACIÊNCIA, TENACIDADE E ABNEGAÇÃO”

Aproveitou para entregar ao presidente da banda, Simão Silva., dois opúsculos com resumos prenunciadores de uma obra maior da vida da filarmónica lanhelense a que não desdenharia que dessem corpo a uma publicação dos dados recolhidos desde 1876 até aos dias de hoje, ressalvando que do período da fundação em 1850 até essa data, não lhe foi possível obter informações.

Foram anos de pesquisa desde 1830 em bibliotecas, arquivos municipais e paroquiais, confrarias (S. Bento de Seixas, por exemplo), jornais e junto de casas particulares, realçando pela sua importância, a colaboração prestada pelo arquivo de A Guarda, onde lhe foi possível recolher informações preciosas.

Citou algumas das figuras da história da Banda de Lanhelas, como o “Tio Dezoito”(José Maria Gomes da Rocha), António José Guerreiro, Tio Garrano ou Armindo Mota Gomes, todos pertencentes à “Banda dos bons amigos”, conforme a definiu.

Será este importante espólio que António Vasconcelos pretende legar aos vindouros, particularmente “aos alunos das escolas de música, para que venham a conhecer a história da sua Banda”, segundo anunciou no decorrer da sua alocução muito aplaudida pelos presentes, em que também se mostrou disposto a apadrinhar o lançamento de um periódico da banda já a partir de Janeiro, intitulado “Música em Frente”

“MENINA DOS OLHOS DOS LANHELENSES”

Simão Silva, presidente da direcção, ao fazer o balanço do primeiro ano de mandato da sua equipa “sem experiência”, precisou, mostrou-se satisfeito por terem concretizado os projectos delineados, colocando em destaque a ampliação do espaço da escola de música, cuja inauguração prevê para breve.

Coincidindo com a data da fundação da filarmónica (1/Janeiro), fez votos para que o lançamento do 1º CD da Banda coincida com este dia.

Aludiu à saída precoce do maestro, sendo substituído por Márcio Pereira – um produto da casa – que regressou logo que sentiu as dificuldades com que a banda se iria deparar pelo vazio criado, retorno este deveras saudado por António Vasconcelos.

O presidente da Direcção agradeceu os apoios que vem recebendo da câmara e junta, fazendo notar que com a ampliação da escola de música necessitarão de mais instrumental para os seus 50 alunos.

PEDIDA “ISENÇÂO”

Da parte da Junta de Freguesia, representada no jantar pela secretária Emília Roda, foi realçado o suporte concedido à filarmónica, prometendo continuar a apoiar os seus projectos, mas pediu “isenção e independência” aos seus responsáveis, sem as quais as colectividades não se engrandecem, assinalou.

“É UM COMEÇO DE CONTINUIDADE”

Por seu lado Júlia Paula, presidente do município, pegando nas palavras de Simão Silva.quando aludiu à existência de pessoas do concelho interessadas em destruir a banda, saudou este jantar de convívio que serviu “para nos unir”, interrogando os presentes sobre quantas instituições existem no país com mais de 100 anos.

Apelou aos jovens para que adiram e prometeu apoio camarário, porque a banda “é um motivo de orgulho, pela sua qualidade, juventude, capacidade de iniciativa e pela sua história que hoje também homenageamos”.

Após dizer que “cabe às autarquias fazer a sua parte: apoios”, recordou que se comprometera há um ano com as obras no edifício da Casa da Banda, pretendendo agora proceder de forma idêntica com os 160 anos, fazendo votos para que o dia 1 de Janeiro seja “um começo de continuidade”.

BANDA JÁ MERECERIA OUTRAS INFRAESTRUTURAS

Coube ao regressado maestro Márcio Pereira fazer o ponto da situação dos músicos que dirige, começando por agradecer à Casa do Povo a disponibilização das suas instalações para os ensaios e funcionamento da escola de música enquanto que durarem as obras.

Precisou que logo que contactado para reassumir a direcção da Banda “disse que poderiam contar comigo”, porque “apraz-me trabalhar com esta jovem direcção”, aproveitando para anunciar mudanças em alguns naipes (saxofones e trompetes).

Após citar alguns dos músicos nascidos nesta filarmónica que hoje em dia dão cartas a nível nacional e mesmo internacionalmente, entendeu ter chegado a hora de “merecer outras infraestruturas”, pelo que lançou esse desafio aos poderes instituídos.

Em reforço das suas palavras, enfatizou o apego de António Vasconcelos à sua banda, fazendo-o deslocar-se propositadamente de França para participar neste jantar e anunciar a sua investigação histórica que muitos desconheciam, tendo saído então da mesa de honra para o abraçar efusivamente, como grandes amigos que são, apesar da diferença de idades.

Márcio Pereira aproveitou ainda a ocasião para pedir aos pais que não considerem a escola de música como um mero ATL, porque dessa forma, o aproveitamento dos alunos ao fim de cinco ou seis anos “não se vê”, lamentou.

Assim, “cabe-me apertar o torniquete para que progridam”, dado virem a possuir boas condições.

“Aproveitem!”, sentenciou.

in caminha2000