Nesta edição o jornal “O Vianense” foi ao encontro do Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira, de 29 anos, natural de Lanhelas-Caminha, maestro da Sociedade Musical Banda Lanhelense. Eis o extracto da nossa conversa:

Jornal “O Vianense” : -Obrigada por conceder um pouco do seu tempo para esta entrevista ao nosso jornal.

Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira: -Não tem de quê. É um orgulho fazer parte do leque de escolhidos para estas entrevistas, onde constam nomes como o do Maestro Vitorino de Almeida, com o qual já tive o prazer de trabalhar.

“OVianense” : -O Maestro Márcio Pereira dirige a Sociedade Musical Banda Lanhelense. Como surgiu esse convite? E o que o levou a fazer parte dessa Banda?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:–Pode dizer-se que não foi um convite. Tinha terminado a “época” de 2003/2004 e o maestro que até a essa data dirigia a Banda deixou de o fazer. Sendo eu músico da banda e estudante de direcção de orquestra/banda, pareceu-me mais do que óbvio que seria uma grande oportunidade de pôr em prática o que estava a aprender nas aulas, estar em contacto com os músicos desde outra perspectiva, identificar reacções perante o maestro, corrigir erros, por aí em diante. Não esquecendo o facto de ser a Banda da minha terra natal, na qual eu dei os primeiros passos na música.

“O Vianense” : -Já colaborou com várias orquestras, quer enumerar algumas?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:– Naturalmente. Orquestra Académica Metropolitana, Orquestra de Sopros dos Templários, Orquestra de Clarinetes “Invicta”, Orquestra de Clarinetes de Almada, Orquestra ARTAVE, Real Filarmónica da Galiza, Orquestras das escolas que frequentei, Orquestra Sinfónica da Galiza, Momentum Perpetuum, entre outras, e fui “maestro” da Orquestra Sinfónica do Alto Minho nos anos 2004 e 2005

“OVianense” : -É importante para si ser representante nacional da marca de instrumentos Selmer-Paris?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:–Permita-me dizer que é deveras importante. Apesar de todo o trabalho que me compete desenvolver a nível comercial, apoio a eventos, contacto com instrumentistas, basicamente um elo de ligação entre o artista e a marca e uma divulgação constante da mesma, isso permite-me manter um contacto frequente com artistas de nível mundial, solistas de grandes orquestras, grandes professores, enfim, pessoas com as quais posso aprender algo mais. Mas como sabe o mundo comercial (representação nacional de marcas) sofre mutações constantes. Haverá novidades para breve.

“OVianense” : -Terminou o Curso de Instrumentista com a classificação de dezoito valores, na disciplina de Instrumento, foi galardoado com o Segundo Prémio na Classe das Madeiras do Concurso da “Juventude Musical Portuguesa” e fui também finalista dos concursos da Associação Portuguesa do Clarinete, Delegação Centro-Norte. Considerava-se um bom um bom aluno?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- -Não posso dizer que era um mau aluno porque estaria a entrar em choque com as classificações que obtive. Mas a realidade é que poderia ter sido muito melhor aluno, a todos os níveis, quer no sector prático (instrumento), como no teórico.

“OVianense” : -Qual foi a Banda em que iniciou os seus estudos musicais?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:–Foi a banda da qual hoje sou o maestro e pela qual nutro um grande carinho: Sociedade Musical Banda Lanhelense.

“OVianense” : -Maestro Márcio Pereira, o que pensa das Filarmónicas?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- -Penso que hoje em dia já não carregam tanto o estigma do “parente pobre” da música. Apesar de continuar a achar que não lhes é atribuído o devido valor. Se formos ver, por várias gerações anteriores até a actual, os grandes músicos do nosso país saíram das bandas ou começaram nestas mesmas. Nunca desprezando os que por lá não passaram. Mas definitivamente as Bandas sempre foram autênticas “fábricas” de músicos, em Portugal e não só. Mas, tomemos como exemplo a nossa vizinha Galiza: todas as Bandas, mais recentes, mais antigas, com mais ou menos músicos, com grande curriculum ou não, têm o mérito que lhes é devido. Claro está, estou a falar sobre apoios monetários, logísticos, etc. Dou-lhe um exemplo: nomeadamente as bandas da nossa região, do nosso distrito, não têm um local de concertos que possam utilizar frequentemente. O que seria bom particularmente a nível artístico. Contacto com público, definir objectivos, “subir a pressão” como se diria na gíria. Só teríamos a ganhar. Isto para não falar em concursos de banda que, na minha opinião, só temos um em Portugal digno desse nome. Concurso. Funciona como em qualquer área, pondo as pessoas constantemente à prova e não digo isto por falta de confiança em alguém, só proporciona uma evolução bastante notável, desde que encarada na perspectiva correcta.

“OVianense” : Quando e como ocorreu a transição de músico para Maestro?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- Correu de uma forma bastante natural, visto que era um dos membros da Banda. É sempre uma situação algo estranha, eu, um rapazito de 23 anos, a “mandar” naqueles que me viram crescer. Mas com cedências de parte a parte creio que foi bem conseguida. Quando? Foi no início da época de 2004/2005.

“OVianense” : -Quando se colocou pela primeira vez à frente dos músicos para reger a primeira peça, o que sentiu? Medo ou responsabilidade?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- -Responsabilidade. Não posso dizer que tive medo pois estava a jogar em casa. Todos eles me conheciam e vice-versa. Pesou mais a responsabilidade porque passei a ter a meu cargo a carreira artística da instituição que me empurrou para o mundo da música. E o facto de querer fazer algo por quem fez muito por mim deixa sempre marcas. Sobe a parada. Ponho sempre o limite bastante por cima de modo a aproveitar e fazer render todos os momentos de trabalho juntos. Só dessa forma poderemos evoluir. Isto não só para a banda. Na minha vida aplico o mesmo princípio.

“OVianense” : Qual a melhor ideia de cativar novos músicos para a Banda?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:–A resposta a esta pergunta é muito susceptível. Há crianças que gostam mais de chocolate branco e outras que gostam mais de chocolate de leite. Portanto a forma de cativar alguém para a música é bastante particular e, provavelmente, não se aplique a outra criança. Depende de demasiadas coisas para poder definir qual a melhor forma de cativar alguém. Mas temos sempre a vertente de escolher reportório que lhes agrade, de actividades aliciantes, não ser demasiado rotineiro; há um grande poder de escolha nesse aspecto. Claro está, não se pode agradar a gregos e troianos. Portanto é nosso dever, maestros e corpos directivos, encontrar um meio-termo para que ninguém se sinta menosprezado ou desvalorizado.

“OVianense” : Considera que existe alguma dificuldade em ensinar música?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- -Considero que a dificuldade em ensinar música reside particularmente na vontade que um aluno tem de a aprender. Recordo-me dos meus irmãos, que a única coisa que faziam era estudar. Hoje estão entre os melhores da sua geração, com projecção na carreira, trabalhos de responsabilidade e reconhecimento por parte do público e do meio musical.
Digo isto porque me entristece saber que há muitos alunos nas escolas de música, sejam elas as bandas ou os conservatórios, que estão a aprender música por ser “giro” ou “chique”. Pior ainda, para não estarem em casa a atormentar os pais. Perdoem-me a frontalidade mas é a minha opinião, e compete-me defender os professores de música e os alunos que, porventura, não estão a aprender música por não ter vaga ou instrumento, e poderiam ser alguém dentro deste meio. Ou pelo menos têm vontade.
Esta é uma profissão na qual temos de abdicar de muitas coisas para que seja encarada a sério. Muitas horas a estudar, muitas festas de anos e saídas à noite às quais não podemos ir. Mas como tudo na vida, são escolhas.

“OVianense” : Tem projectos futuros em mente para a Banda?
Maestro Márcio Daniel Fernandes Pereira:- -Neste momento pensamos na gravação de um CD. Para futuro há concursos de Banda, nacionais e internacionais, organização de master-classes, alargar as opções da escola de música, em geral tudo o que possa ser benéfico para a banda.

“OVianense” :–Para concluir, qual o seu desejo para a banda?
Márcio Daniel Fernandes Pereira: – Muito trabalho e vontade de trabalhar.

“OVianense” : – – Obrigada por ter concedido esta entrevista ao jornal “O Vianense”
Márcio Daniel Fernandes Pereira: Não tem de quê. O prazer é todo meu.

Entrevista conduzida por Fátima Rosa Rodrigues

in jornalovianense.com